CONTEXTUALIZANDO A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA EPOCA DA DITADURA MILITAR NO BRASIL


CONTEXTUALIZANDO A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA EPOCA DA
DITADURA MILITAR NO BRASIL

CONTEXTUALIZATION THE HISTORY OF THE PHISICAL EDUCATION IN THE
AGE OF DICTATORSHIP IN THE BRASIL

Heliana da Silva1
Eduardo Cartier2

RESUMO

Este trabalho procura abordar a políticas públicas da Educação Física no Brasil no período da ditadura militar, 1964-1985, quando ocorreram grandes mudanças na educação brasileira, focando a prática da Educação Física no cotidiano. No primeiro momento abordaremos breves considerações sobre a educação no Brasil no período militar, já no segundo momento a Educação Física no período da ditadura: 1964-1985, e para finalizar uma abordagem sobre os desdobramentos da Educação Física e seus determinantes legais: uma relação com a atualidade. Neste sentido, pensamos em desenvolver como objeto central deste estudo refletir os desdobramentos da Educação Física ao pensar em seus determinantes legais e políticos. Realizou-se uma pesquisa bibliográfica fazendo análise e avaliação da literatura, constituído de livros, artigos na área da educação e da Educação Física no Brasil. As políticas públicas brasileiras e a prática da Educação Física no período histórico estudado foram pautadas por uma forte interferência do Estado, elemento regulador, interventor e legitimador da prática da Educação Física.

Palavras chaves: Educação Física, Ditadura militar, Legislação.

ABSTRACT

This work looks for to approach the public politics of the Physical Education in Brazil in the period of the military dictatorship, 1964-1985, when great changes in the Brazilian education had occurred, prioritizing the practical one of the Physical Education in the daily one. At the first moment we wil approach brief considerations on the education in Brazil in the military period, no longer according to moment the Physical Education in the period of the dictatorship: 1964-1985 and to finish a boarding on the determinative unfolding of the Physical Education and its legal ones: a relation with the present time. About this direction, we think about developing as central object of this study to reflect the unfolding of determinative the Physical Education when thinking about its legal and politicians. A bibliographical research was become fulfilled making analysis and evaluation of the literature, consisting of books, articles in the area of the education and the Physical Education in Brazil. The Brazilian public politics and the practical one of the Physical Education in the studied historical period had been supported by one strong interference of the State, regulating element, intervention and legislator of the practical one of the Physical Education.

Word Keys: Physical education, Military dictatorship, Legislation.


INTRODUÇÃO



O movimento do ser humano se diferencia do movimento dos demais seres
vivos, tem características próprias de sua espécie e por isso o ser humano é
instrumento de transformação e transformador do seu corpo e da sociedade como
um todo. Na trajetória de sua existência devido às necessidades de sobrevivência
ele constrói nas suas relações com os outros seres humanos e com a natureza
funções de pensamento, ação e reação, “é o ser racional” numa perspectiva
sustentada nos dados da Secretária da Educação de Santa Catarina (SED), (2001),
neste sentido, andar, correr, saltar, arremessar são movimentos básicos e sempre
utilizados no processo de ensino aprendizagem na/da Educação Física.
A disciplina de Educação Física surge ou se consolida no Brasil dentro e na
formação da Escola Superior de Guerra, em 1922. Uma criação a partir de o centro
militar de Educação Física com o objetivo de dirigir, coordenar e difundir novos
métodos desportivos. No exército os homens precisavam adquirir características
especificas para o manejo e agilidade das armas bem como para resistência física.
Assim associou-se a Educação Física com saúde corporal, gosto pela saúde,
higiene, vigor do corpo, aumentar a reprodução, longevidade, e melhorar os
costumes privados de higiene.
A preocupação deste estudo - problemática portanto - repousa na ânsia de
buscar conhecer as necessidades que a Educação Física viveu no período da
ditadura e as consequências desta para a Educação Física na atualidade. Uma
tentativa de compreender e interpretar o comportamento do ser humano em nossa
sociedade a partir desta realidade empírica, tendo como pano de fundo a disciplina
em questão. Neste sentido, pensamos em desenvolver como objeto central deste
estudo refletir os desdobramentos da Educação Física ao pensar em seus
determinantes legais e políticos.
Neste sentido, poderíamos sinalizar que as interferências legais exercidas no
período da ditadura militar trazem em si consequências para o desenvolvimento da
mesma até os dias atuais, uma vez que as concepções idealizadas ainda primam e
sustentam por uma Educação Física a serviço do físico, do belo e da
competitividade.
No período da ditadura militar um dos princípios do exército brasileiro referiase
a necessidade do adestramento físico, para defender a pátria dos perigos
internos e externos, visando atender o processo de industrialização com mão de
obra fisicamente domada e treinada para o mercado de trabalho. Com a disciplina
estudada surge como uma possibilidade eminente de assegurar tal proposta desde a
sua concepção escolar.
Castellani Filho (2011) também evidencia tais posicionamentos identificando
que ao professor de Educação Física compete algumas demarcações, portanto
atribuições de dirigir, orientar os exercícios de modo que influam enérgica e
eficazmente sobre cada organismo, ordená-los em série gradual, harmonizá-los com
o tédio, e constatar, enfim, pelos processos vários de mensurações corporais, os
resultados de seu ensino, fazer, em uma palavra, o registro dos benefícios que
provieram dos exercícios, e dos inconvenientes que o determinaram.
Em suas palavras podemos observar tal referencia, a saber:
entreguemos ao exercito todos os poderes para que, no setor de Educação
Física, ponha em prática, em todo o território nacional, a sua técnica
disciplinadora que é, no momento, um evangelho salutaríssimo à nação.
Para nos pôr a salvo das tormentas, organizando a nossa defesa, o Exército
glorioso precisa de um ‘Homem brasileiro’, com todas as letras maiúsculas,
bem maiúsculas. Confiantes, entreguemo-nos a ele, porque só ele dispõe
dos elementos necessários a um renascimento de vigor físico indispensável
à organização bélica de uma Pátria, ainda que a mais pacífica, como a
nossa. Seja o Brasil, todo ele, no tocante à Educação Física, uma Escola de
Educação Física do Exercito (CASTELLANI FILHO, 2011, p. 68).
A obrigatoriedade da Educação Física fixa bases para incrementar às novas
gerações, organização e para servir de reserva de mão de obra e condicioná-la ao
cumprimento dos deveres com o desenvolvimento do país. A lei foi uma tentativa de
organizar as demandas sociais da época e não propriamente consolidar o regime
militar em que a organização social oferece pistas para essa questão, pois no
período assistiu-se a redução das possibilidades das manifestações estudantis
públicas, isso não implicava que os homens não tivessem consciência de sua
condição, ainda que a Educação Física tenha sido dirigida de cunho moralizador,
higienista, integrador sobre o conhecimento.
Este estudo se justifica pela necessidade de uma compreensão histórica
da/na Educação Física, tendo em vista o que a ditadura representou para o Brasil,
enquanto sociedade, seus desdobramentos em todas as dimensões; em que pese a
dimensão política, econômica, social, entre outras de igual importância; e a
influencia disto na educação primeiramente. Numa perspectiva prática compreender
tal processo permite aos envolvidos com a disciplina se perceber e perceber suas
raízes e razões históricas e sua (re) produção dela nos dias atuais.
Do ponto de vista metodológico optamos por uma pesquisa qualitativa de
caráter bibliográfico, tendo com fonte de informação artigos, livros e periódicos
relevantes para temática idealizada de 1988 a 2010. Como análise dos dados
utilizamos uma matriz teórica plural, portanto diversa, de maneira a assegurar
diversos posicionamentos autorais ao longo do recorte estudado.
Para melhor compreensão do texto dividimos o texto em 3 momentos, a
saber: breves considerações sobre a educação no Brasil no período militar; a
Educação Física no período da ditadura: 1964-1985; os desdobramentos da
Educação Física e seus determinantes legais: uma relação com a atualidade.


BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A EDUCAÇÃO NO BRASIL NO PERÍODO
MILITAR



No Brasil em 31 de março de 1964 entrou um novo modo de administrar o
país, instalou-se a ditadura militar com a deposição do governo João Goulart, que
durou por aproximadamente 20 anos (1964-1984).
O direcionamento da política educacional dos governos militares formaram
um conjunto de medidas que visavam reproduzir a força de trabalho, segundo
Germano (2000), os eixos da politica educacional desenvolvidos foram: controle
político e ideológico da educação escolar em todos os níveis; o controle total e
completo da educação pelo estado; estabelecimento de uma relação direta e
imediata, educação e produção capitalista, profissionalização do 2º. Grau; incentivo
a pesquisa vinculada ao acúmulo de capital; descomprometimento com o
financiamento da educação pública, privatização do ensino, um negócio rendoso,
entre outros.
Nos anos que se seguiram ao golpe, o regime que foi implementado no Brasil
apresentou características autoritárias, extremamente repressivas contra qualquer
forma de oposição e com forte presença do Estado enquanto elemento
regulamentador e normatizador das relações econômico e sociais (GASPARI, 2002).
No período militar aconteceram muitas mobilizações estudantis,
especialmente nas universidades. Professores e alunos ‘suspeitos’ de conspirarem
contra o regime eram levados ao Dops (Departamento de Ordem Política e Social),
em que os alunos e professores recebiam punições como suspensão dos direitos
políticos, prisão e algumas mortes ocorreram.
O governo militar decretava os famosos AI (Atos Institucionais) que
regulamentavam a vida política, econômica, educacional e dos demais setores da
sociedade brasileira, nas palavras de Germano (2000) observamos:
assim nas Universidades espalha-se um clima de terror. Um exemplo de
professor cassado pelo regime militar: Paulo Freire, assim como outros
foram “aposentados”. Os movimentos estudantis foram severamente
reprimidos, a UNE e as UEEs são colocadas na ilegalidade e a
representação estudantil é colocada na ilegalidade nos diversos níveis. A
deterioração do ensino ficava cada vez mais evidente. No ano de 1968 as
mobilizações ocorrem por todo o pais, o governo então edita o famoso AI-5
(GERMANO, 2000, p. 124, grifos do autor)
Segundo o Barbosa, Barbosa (2010) a Educação Física como disciplina
universitária não poderia ficar de fora da reforma acadêmica implementada durante
a ditadura militar, em que a formação do profissional de Educação Física sofreu
alterações significativas com a incorporação das chamadas disciplinas pedagógicas
no currículo dos cursos de formação de Professores de Educação Física a partir de
1969.
Seguindo o espirito do regime militar ocorreram reformas universitárias. A
orientação partia do pressuposto que a educação era essencial para o
desenvolvimento econômico de toda a sociedade brasileira, criou-se o ciclo básico e
o ciclo profissional, dando ênfase para privatização do ensino, como forma de
aumentar o numero de vagas aos que desejavam ou podiam seguir os estudos.
Então o Estado ficava com a educação aos que provassem falta de recursos.
Segundo Germano (2000) O regime militar proclama a necessidade de
expandir o ensino, mas encontra-se num dilema, pois para expandir eram
necessários recursos. A saída foi apelar para a “justiça social”: quem pode pagar
pela educação deve pagar, e que os “desfavorecidos” tenham acesso à educação.
No ano de 1969 o governo brasileiro, para suprir as demandas do mercado de
trabalho cria o MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização), para alfabetizar
grande quantidade de trabalhadores cumprindo assim metas educacionais de
alfabetização.
Segundo Germano (2000) o governo edita a lei 5.692/71 que apresenta dois
pontos fundamentais: a extensão da escolaridade obrigatória, junção do primário
com o ginásio e a generalização do ensino profissionalizante no nível médio ou 2
grau. Ao instituir o prolongamento da escolaridade obrigatória de 4 para 8 anos,
atingindo a faixa etária dos 7 aos 14 anos.
A politica pública para educação exige demandas na ampliação da oferta de
vagas para a escola pública, para atender os contingentes das camadas populares
que tenha acesso à escola, mesmo que seja uma educação de baixa qualidade, com
taxas de evasão e repetência elevadas e com professores mal remunerados,
sofrendo um processo de deterioração da escola pública.
Seguindo o espirito das reformas educacionais, ficou com as escolas privadas
a profissionalização do ensino de segundo grau, já as escolas públicas não
conseguiram implementar por falta de recursos matérias e humanos. Para Germano
(2000), o estímulo à privatização é visível, afinal a educação é direito de todos e
dever do Estado, ao qual assegura que o ensino é livre à iniciativa popular ao qual
merecerá o amparo técnico e financeiro dos Poderes Públicos, inclusive mediante
bolsas de estudo.
No governo militar, como em muitos outros governos houve descaso com a
educação pública, a corrupção, fraudes, favoritismo nas licitações para construção,
reforma e ampliação das escolas, aconteciam em todos os níveis.
Segundo Germano (2000), uma das estratégias mais importantes adotadas
na área educacional à chamada municipalização do ensino, impulsionada a partir de
1975. Transferir os municípios os cargos, cada vez maiores, com o ensino de 1 grau,
como, aliás, previa a Lei 5.692/71.
No decorrer da ditadura militar a exclusão social aumentou, aumentando
também a exclusão escolar, a significativas parcelas da sociedade brasileira,
condenadas a viver na miserabilidade, enquanto outros com uma grande
concentração de renda.
A escola pública sofre decadência e acentua-se o distanciamento entre as
classes sociais, consequentemente as classes trabalhadoras tem um nível muito
baixo de cultura. A falta de verbas para pagar os salários dos profissionais da
educação, para investir na estrutura das escolas vai gerando um povo deficiente de
formação cultural.


A EDUCAÇÃO FÍSICA NO PERÍODO DA DITADURA: 1964-1985



A Educação Física, uma disciplina escolar no Brasil, tem como referencial
histórico influências europeias, enquanto disciplina deve preparar o homem mais
forte, mais ágil e mais empreendedor dominando o corpo com maior eficiência. Sua
inclusão oficial como disciplina ocorreu com a reforma Couto Ferraz, em 1851, e foi
influenciada pela chamada Medicina Higienista, oferecendo subsídios aos
professores de Educação Física, estes valores nas primeiras décadas do século XX.
Portanto, segundo Castellani Filho (2011) ao professor de Educação Física
compete, dirigir, orientar os exercícios de modo que influam enérgica e eficazmente
sobre cada organismo, ordená-los em série gradual, harmonizá-los com o tédio, e
constatar, enfim, pelos processos vários de mensurações corporais, os resultados
de seu ensino, fazer, em uma palavra, o registro dos benefícios que provieram dos
exercícios, e dos inconvenientes que determinaram. São as atribuições que todos os
entendimentos lhes demarcam.
Taboarda de Oliveira (2002) a perspectiva da Educação Física Escolar que
tem como objeto de estudo o desenvolvimento da aptidão física do homem, tem
contribuído historicamente para a defesa dos interesses da classe no poder,
mantando-se a estrutura da sociedade capitalista.
A Educação Física no decorrer de sua história sempre colaborou na formação
do caráter do individuo, especialmente na época da ditadura. Portanto, colaborar
para valorizar a obediência e o respeito às normas e a hierarquia foi uma condição
fundamental. Reformas no ensino foram acontecendo, visando sempre atender as
necessidades do mercado de trabalho e a Educação Física torna-se prática
obrigatória.
Segundo Castellani Filho (2011) a constituição de 1937 assegura que a
Educação Física, seja obrigatória em todas as escolas primárias, normais e
secundarias, sinalizando ainda a perspectiva do adestramento físico, de maneira a
prepará-la ao cumprimento dos seus deveres para com a economia e a defesa da
nação.
Para tanto, segundo Castellani Filho (2011), deveria a Educação
instrumentalizar-se, passando a assistir, então, ao marcante enfatizar de duas
“matérias” que, basicamente, deveriam assumir a responsabilidade de colocar a
Educação na direção anunciada pelos discursos mencionados. Surgem, portanto, a
Educação Física e a Educação Moral e Cívica como elos de uma mesma corrente,
articuladas no sentido de darem à prática educacional a conotação almejada e
ditada pelos responsáveis pela definição da política de governo.
A ideologia capitalista intervém na educação de maneira geral e também na
Educação Física, buscando consenso e restringindo as opções das classes
dominadas. Cabe ao professor ‘o intelectual’ abrindo o leque dos alunos para que
aja verdadeira transformação social.
Para Taborda de Oliveira (2000), de maneira contundente o docente de
Educação Física, como outros profissionais nesta sociedade de classe, tem sido
também vítima das mais diferentes formas de violência ideológica do sistema
capitalista vigente, em que estabelece o caráter da reificação do sujeito.
Seguindo o pensamento das transformações apresentadas para a Educação
Física, segundo Barbosa; Barbosa (2010) a educação brasileira sofreu mudanças
significativas durante o regime ditatorial, principalmente através dos convênios
assinados pelo ministério da educação e a United States Agency for International
Development (MEC-USAID), que preconizava sobretudo a reforma do ensino
superior no Brasil, com o objetivo de aproximá-lo do modelo universitário americano.
Romanelli (2001) assevera que este modelo visava atender a demanda reprimida
por mão–de–obra qualificada exigida pela burguesia brasileira, graças as mudanças
no desenvolvimento industrial brasileiro que vinha ocorrendo desde a década de
1950.
A prática da Educação Física nos regimes ditatoriais dos governos militares,
utilizavam-se de treinamento esportivo, tentando transformar as escolas em
laboratórios para futuros atletas da Nação, incentivando a competição entre os
cidadãos, contribuindo para a lógica do capitalismo.
Ao orientar a filosofia da Educação Física no período militar evidencia-se o
desenvolvimento muscular, o equilíbrio orgânico como meio de transformação do
individuo em cidadão útil ao coletivo. A disciplina forja a personalidade e desenvolve
no caráter as qualidades e o padrão moral da época.
Segundo Castellani Filho (2011) a Lei 6.521/75, afirma ser um dos objetivos
básicos da Educação Física, o aprimoramento da aptidão física da população e
externava-se, dessa forma, a caracterização de uma outra sua faceta, qual seja,
aquela voltada às questões afetas à “performance esportiva”, simulacro, na
Educação Física, da ordem da produtividade, eficiência e eficácia inerentes ao
modelo de sociedade com o qual a brasileira encontra identificação.
Durante a ditadura militar as mudanças foram ocorrendo, conforme as
necessidades do mercado de trabalho e também para cumprir as exigências do
regime militar. O professor poderia servir-se da disciplina, do trabalho, do respeito a
lei para auxiliá-lo no cotidiano das aulas.
A prática esportiva no regime militar ganhou impulso por que os militares
estavam sempre atentos ao risco de uma guerra, dando ênfase num determinado
momento ao treinamento físico para agilidade e força dos cidadãos, assim como a
saúde para servir a pátria.


OS DESDOBRAMENTOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA E SEUS DETERMINANTES
LEGAIS: UMA RELAÇÃO COM A ATUALIDADE



Tínhamos como proposta interrogativa do estudo pensar como ocorreram os
desdobramentos da Educação Física ao pensar em seus determinantes legais e
políticos? Neste ínterim, resgatar o contexto da educação no período da ditadura
militar considerou-se de fundamental importância, tendo em vista sua localização
histórica. Posteriormente, caracterizar a Educação Física neste período consolidou
as possibilidades de contextualizar os desdobramentos da Educação Física e seus
determinantes legais: uma relação com a atualidade.
Na Lei de Diretrizes e Bases (LDB, 1996), encontramos a Educação Física
em seu artigo 26 § 3o:
a Educação Física, integrada à proposta pedagógica da escola, é
componente curricular obrigatório da educação básica, sendo sua prática
facultativa ao aluno: I – que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a
seis horas; II – maior de trinta anos de idade; III – que estiver prestando
serviço militar inicial ou que, em situação similar, estiver obrigado à prática
da educação física; IV – amparado pelo; V – (VETADO); VI – que tenha
prole.
A visão legal, da pratica da Educação Física, quando confrontada com a
realidade, apresenta suas dicotomias, pois pouco tem contribuído para compreensão
dos fundamentos teóricos, ou para o desenvolvimento de habilidades desportivas.
Percebemos que com o passar dos anos os alunos vem se afastando das quadras
escolares e buscam em outros espaços, como academias, clubes as praticas que
mais lhes satisfaçam. Em muitas escolas ou regionais para manter o aluno na
quadra buscam-se competições e assim passa ser relacionamento de professortreinador
e aluno-atleta.
A Educação Física precisa buscar em cada espaço escolar sua identidade
para compreensão e entendimento do ser humano enquanto produtor de sua cultura.
Cabe como orientação central educar para a saúde, para uma vida produtiva,
criativa e bem sucedida. Atualmente encontramos um número maior de crianças,
adolescentes e jovens obesos devido à falta de movimento. É preciso modificar este
quadro e o desafio cabe ao professor que elabore um projeto envolvente e coerente
com os anseios do seu público, colocando a Educação Física no mesmo patamar de
seriedade e compromisso com os demais componentes curriculares.
Segundo o PCN (1999) a Lei de Diretrizes e Bases em vigor, ao ser
interpretada, indica uma direção obrigatória: a busca de aperfeiçoamento constante
dos profissionais envolvidos com o ensino. O professor de Educação Física não
deve encontrar no comodismo, no individualismo e no ressentimento a solução de
seus problemas na escola. Acrescenta-se ainda que os professores devem ter muita
persistência, criatividade e competência técnica para o desempenho de suas tarefas
e não se deixar envolver em simplificações do ato pedagógico.
A comunicação corporal entre os indivíduos acontece com maior frequência
no momento da pratica das aulas de Educação Física, onde o professor deve ser o
mediador, sendo flexível, mostrando aos alunos que a ‘quadra’ é espaço de
aprendizagem e o aluno precisa ser receptivo a estas informações. A postura,
gestos, expressões, devem ser mantidos ou modificados conforme o contexto
cultural da sociedade.
À medida que o educando vai aprendendo novos movimentos ele vai
moldando sua personalidade vai, construindo seu conhecimento numa busca
constante para conquistar sua autonomia.
A Proposta Curricular do Estado de Santa Catarina (1998), sustenta que a
Educação Física, lidando com a corporalidade e movimento, não tem diante de si um
corpo simplesmente biológico, que seria um instrumento da alma, nem apenas um
feixe de reações a estímulos externos ou internos, mas a exterioridade visível de
uma unidade que se esconde e se revela no gesto e nas palavras. Conceber a
corporeidade integrada na unidade do homem significa resgatar o sentido do
sensível e do corpóreo na vida humana. A práxis humana se efetiva porque o
homem é um ser corpóreo, que possui necessidades materiais e espirituais. Sua
relação com o mundo não é simplesmente a relação de uma consciência que pensa
o mundo, sem deixar-se tocar, mas é a relação de um ser engajado no mundo – que
tem emoções, que ama, que odeia, que tem fome, que tem dor, que vive a solidão, a
amizade e o desprezo, ou seja, um ser que sente.
Quanto aos objetivos gerais de Educação Física para o ensino fundamental
dá-se ênfase no convívio social e prevalecendo valores, atitudes, habilidades
voltadas para a integração das pessoas buscando reconhecer a diversidade dos
padrões de beleza desempenho e saúde.
É preciso repensar a cultura corporal de movimento buscando a formação de
um homem integral, onde seja primordial o aprender a aprender, o convívio social, o
aprender a viver juntos, privilegiando a inclusão e integrando a diversidade. Cabe a
educação escolar formar cidadãos livres, conscientes com competências da
comunicação, da interação social e competências para o mercado de trabalho.
Para Vago e Sousa (1997), a educação básica contempla desde a educação
infantil até o ensino médio, e a Educação Física deve ser inserida neste contexto,
apontando que o referido processo de inserção curricular da Educação Física,
segundo nossa interpretação, ocorre, especificamente, na primeira etapa da
educação básica, a educação infantil, destinada a crianças até seis anos de idade,
podendo se realizar em creches e pré-escola. No entanto, mesmo considerando tal
inserção um avanço para o ensino da Educação Física, entendemos que o fato de
estar prevista em lei não é garantia para sua inserção curricular nesta etapa, porque
depende das condições objetivas de ensino nas creches e pré-escolas que, bem
sabemos são precárias.
A Educação Física como parte da produção do conhecimento não pode mais
dividir corpo e mente. Deve-se refletir e refazer novas construções da Educação
Física em igualdade com as outras áreas do conhecimento no interior da
comunidade escolar.
Preparar o ser humano para exercer a cidadania, ser responsável, autônomo,
participativo, criando habilidades necessárias para novas demandas do mercado de
trabalho. Também que este ser humano saiba refletir e articular o saber científico
com o dia-dia.
Na atual conjuntura a reflexão sobre os compromissos por parte do professor
de sua pratica pedagógica na Educação Física e de utilizar o conhecimento
produzido historicamente buscando uma reflexão e adaptação, das contradições
com a realidade social.
A Educação Física na atualidade é um reflexo de uma condição histórica
fortemente enraizada no período da ditadura militar. As suas básicas influencias –
adestramento físico, aptidão física e proteção da pátria - idealizadas no período
1964 a 1985, perduram até os dias atuais.
De fácil observação aulas sustentadas com características militares emergem
intrinsicamente no interior dos conteúdos oferecidos seja no ensino básico,
fundamental e médio, atestando um modelo de ensino pautado na reprodução
sistemática de movimentos e na exploração e culto ao corpo físico esbelto.


CONSIDERAÇÕES FINAIS



As políticas públicas e brasileiras para a pratica de educação física no período
da ditadura militar, 1964-1985 foi marcada por forte interferência do Estado, como
elemento que legitimava, intervinha e regulamentava a prática da Educação Física
no ambiente escolar. Considera-se que a política pública para Educação Física no
período da ditadura militar é um contexto limitado, de uma época, em que o estado
controlava a sociedade, através de seus órgãos reguladores e com a prática da
Educação Física como instrumento de controle do corpo.
Também foi possível perceber a tentativa da utilização da Educação Física
como elemento que dava legitimidade ao regime ditatorial procurando aproximar e
criar vínculo entre educação física e prática social. As imposições do regime militar
para a Educação Física tinham suas limitações, dependiam de consenso dos
agentes histórico-sociais que tratavam das diretrizes governamentais impostas pelo
Estado brasileiro.
Pode-se concluir que, se houvesse consentimento dos envolvidos nas
políticas educacionais os diversos agentes não teriam condições de colocar em
prática na escola as diretrizes governamentais, pois cada escola tinha suas
dinâmicas próprias, assim como cada professor.
O governo exerceu sua influencia através das corporações, dos especialistas
no que se refere às práticas escolares. Havia tensão entre o que era ‘imposto’ pelo
governo e aquilo que foi assimilado e produzido na prática pelos educadores.
Neste trabalho não tive como finalidade exaurir o tema, mas ler a história da
Educação Física no Brasil na ditadura militar. Cabe a cada ser humano ou a escola
que era reprodutora do sistema entender a cultura e a ideologia reproduzida na
época. Aos que pretendem lutar por uma sociedade igualitária e equânime, a escola
seria o local em que a práxis da Educação Física poderia colaborar para sua
efetivação.


REFERÊNCIAS


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interesses. Ijuí, Sedigraf, 1997. p. 121-41.



1 Acadêmica do curso de Educação Física do Centro Universitário para o Desenvolvimento do Alto
Vale do Itajaí – UNIDAVI.
2 Professor Doutor e orientador do curso de Educação Física do Centro Universitário para o
Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí – UNIDAVI.

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